Crítico de cinema: A Árvore da Vida

Assistir um filme pode ser algo simples. Tem dias que você procura uma comédia romântica boba pelo simples fato de querer passar o tempo, ou cair no sono. Tem horas que você quer ir ao cinema e horas que você prefere ficar em casa no conforto do seu sofá.

Um sábado frio (20-08-110) tinha tudo para ser a segunda opção. Ficar em casa, comer pipoca no sofá coberto pelo edredom e embalado por uma comédia mais do que previsível em algum canal de TV por assinatura era o óbvio a ser feito. Entretanto, como bom sagitariano que sou, mesmo meio gripado – maldita mudança drástica de temperatura, é país tropical isso mesmo? – chamei a amigos e resolvemos assistir A Árvore da Vida. Algumas observações: o trailer e a Palma de Ouro foram, sim, motivos para a ida ao cinema; poucas salas em São Paulo estão a exibir o filme, a maior parte são aquelas já exibem filmes do circuito do chamado cinema de arte.

Até ai, tudo certo, filme escolhido, Reserva Cultural com horário compatível, próximo ao Starbucks e mercado para comprar umas besteiras antes do filme. Enfim, todo esse bla bla bla mal escrito e sem motivo aparente, a não ser que seja escrito em um diário, é exatamente para explicar a frustração inicial do filme. Sim, a primeira hora de filme segue uma sequencia de imagens lúdicas lentas e/ou aceleradas da natureza e sua evolução ao som de música clássica. Pude contar pouco mais de 10 frases usadas como narração. Não costumo dormir em filmes, por mais sem sentido que possam parecer a princípio e com esse não foi diferente. Nas próximas horas que se seguiram até o final do filme, diálogos aparentemente soltos e muitas imagens em flashes surgem na tela chagando a um final inesperado – não no sentido de algo surpreendente, mas no bruto da palavras mesmo, gerando a reação: Como assim acabou ai?

O fato, é que Árvore da vida não é um filme para ser digerido de imediato, muito menos depois de várias idas ao cinema para assisti-lo novamente. Não vai agradar pessoas que esperam conteúdos mastigados, mas pode ser adorado como um deus por pessoas que se dizem cults – mas que pouco entende, e adoram esse fato, e estão ali só para causar e expressar sua fraca e vazia opinião no twitter: A-DO-REI, FILMO DO ANO, AMO.

Preferi não ler uma crítica sequer a respeito do filme antes de escrever meu parecer sobre a obra, afinal, queria a mais pura e única interpretação que eu pudesse apresentar, por hora, claro, ao leitor.

Em A Árvore da vida , a metáfora é realmente válida – o nascer, a semente, as raízes, os frutos, a morte. É preciso tempo, é preciso conhecimentos, é preciso conexões, é preciso pretensão e despretensão, é preciso vida – no mais amplo e filosófico sentido que a palavra vida possa receber. Para entender o filme o tempo será grande aliado e o pensamento, aos poucos, é capaz de mastigar as cenas, as imagens e os poucos diálogos, que aparentemente soltos, começam a fazer sentido a partir do momento que você pisa fora da sala do cinema.

A sinopse do filme é aquela básica que você já leu em todos os sites pela internet, vai uma da wiki para facilitar: o filme mostra as origens e o significado da vida através dos olhos de uma família da década de 1950 no Texas, tendo temas surrealistas e imagens através do espaço e o nascimento da vida na Terra.

A partir do cotidiano da vida – olha o título do filme ai gente – é que se percebe que aquelas imagens e aqueles diálogos começam a ter um sentido. A digestão parece lenta, porque é assim que deve ser. Não pula fases e separa todos os nutrientes encaminhando-os para os lugares certos.

Os questionamentos dos personagens vão surgindo ao longo do filme, o desenvolvimento desses parece, a princípio, superficial demais, mas que no fim, tem a pretensão de deixar sua cabeça a mercê de livre interpretação. Tudo está lá: o sentido da vida sendo testado após uma morte, a dúvida do certo e do errado, o ensinamento de pai para filho, a forma de amar egoísta, o faça o que eu digo, mas não o que eu faço, a religião e sua incrível habilidade de colocar as regras no lugar – até que toda a bondade e todas as oferendas não fazem mais sentido depois que algo sai do script planejado pelo livro [pretensioso] sagrado – a mentira.

Os minutos que seguem após o fim da projeção é de silêncio: a sala cheia levantava-se em silêncio e começa a digestão de tudo aquilo que parecia não fazer sentido algum. É um alimento que por dias ali ficará, tornando-se até indigesto para alguns.

Que corte uma árvore aquele que um dia não questionou a existência de Deus, que nunca questionou o que lhe foi dito e o que era visto por qualquer um que seja. É mais próximo disso que A Árvores da vida se fala antes de qualquer coisa. É naquele sentido mais amplo da palavra vida, que não envolve apenas um Ser, mas tudo e todos ao seu redor, todas as dúvidas e medos que surgem ao longo do caminho, o porquê de algo dar errado quando tudo certo foi feito, o amor precisa mesmo doer? Amar ao Pai e o pai salva?

O filme de Terrence Malick não é de fácil digestão, pode levar horas, pode levar dias, pode ser regurgitado – talvez, também, o filme mais religioso do diretor. É um filme belo na técnica e denso no roteiro. É um filme para qualquer um? Claro, para qualquer um que goste de ser provocado, que goste de se sentir incomodado, afinal, viver é um exercício diário de tudo isso e muito mais.

Sem mais, deixo-os com um texto vazio, cheio de palavras, mas com conteúdo ainda por construir, a vida segue. Árvores não crescem da noite para o dia e o planeta Terra é uma criança de bilhões de anos que aprende a cada secundo e a existência do Pai criador ainda é questionada. Vá ao cinema, assista-o, deteste-o, ame-o, mas sinta algo, sentir é um sinal de que você ainda vive e mesmo que morra a vida segue seu curso.

One response

  1. Hããããmmm juro que esqueci de assistir… se pá assisto esse fds e comento.

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